3/18/2009

Velvet Goldmine


Mais do que uma história, Velvet Goldmine é uma viagem alucinante pelo ambiente musical do chamado “Glam Rock” vivido em Londres no início dos anos 70. Nesta época, como não podia deixar de ser, a revolução musical estava intimamente ligada a uma revolução na cultura e nos valores vigentes.

Depois dos anos 60, dos Hippies e das flores, surge a liberdade sexual e a liberdade provocante de exibir comportamentos e estilos de vestir e de estar de uma grande ambiguidade sexual. Os grandes ídolos do pop rock passaram a pintar-se, a usar botas de salto alto, muita purpurina e lantejoulas, tudo o mais brilhante e colorido possível de forma a passar uma imagem andrógina e exuberante ao mesmo tempo. A música acompanhava o novo estilo, com letras provocantes e exibições em palco que deitavam abaixo qualquer regra moral.

Nesta obra, as personagens são ficcionais, prevalecendo apenas as músicas, verdadeiros ícones do Glam Rock, tocadas em versões de diversos artistas actuais como alguns elementos dos Radiohead e outros ligados a bandas da época como os “Roxy Music”. No entanto, os personagens Brian Slade e Curt Wilde, magnificamente interpretados por Jonathan Rhys-Meyers e Ewan McGregor são indubitavelmente inspirados nas performances de David Bowie e Iggy Pop nos anos 70. Desta forma, o imaginário e poder criativo do realizador juntou-se à realidade musical do pop-rock e pós-punk da época dando origem a este filme delicioso.

A estrutura do enredo foi criada de uma forma bastante hábil e relativamente simples: começa com o nascimento de Orson Wells e um broche verde que surge no cobertor do bebé e vai acompanhando toda a história e vários personagens como o símbolo do acto de sonhar (e, segundo Curt Wilde da imagem e do estilo).
A figura através da qual o nascer e desmoronar de uma estrela de rock é contada, é um jovem fã de Glam Rock, Arthur, que se torna jornalista e, 10 anos depois da saída de cena de Brian Slade (após simular o seu próprio assassinato em palco) é encarregue de fazer uma reportagem sobre o paradeiro da velha estrela.
Arthur, irrepreensivelmente interpretado por Christian Bale, desfia a história do Glam Rock na pessoa de Brian Slade, enquanto inevitavelmente é confrontado com o seu próprio passado, onde se cruza com as personagens da sua própria história. Arthur revê uma adolescência onde descobriu uma homossexualidade num ambiente de revolta e incompreensão por parte dos pais mas também num ambiente de sonho embriagante, alimentado pela admiração que sentia pelos artistas da época e a sua vida repleta de mistério e glamour.

Não poderia destacar uma só cena deste filme, pois são todas bastante interessantes e cada uma tem a sua beleza muito própria, mas destaco a excelente banda sonora e figurino. Não posso deixar de sublinhar mais uma vez as excelentes interpretações de Ewan McGregor, Jonathan Rhys-Meyers, e também de Toni Collette e Christian Bale e a forma sensível e verdadeiramente artística como o autor desenvolveu a relação dos 4 personagens interpretados por eles.

Devo confessar que quando percebi que Brian Slade ia ser interpretado por Jonathan Rhys-Meyers (que estou habituada a ver como o másculo Henry VIII na série “Os Tudors”) achei que não ia resultar mas, a forma como ele vestiu aquele personagem, a ingenuidade que lhe imprimiu nos primeiros tempos e a forma como ele e Ewan McGregor vivenciaram o seu romance foi simplesmente comovente…

Sou profundamente suspeita pelo apego que tenho ao estilo de música que constitui a banda sonora do filme mas, este é, sem dúvida, um musical muito bem conseguido. As músicas encaixam como uma pele em cada cena e embalam o filme como um sonho pleno de cenários brilhantes, misteriosos e irresistíveis.

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