Uma das
coisas que mais gosto de fazer, quando não posso estar a falar
ininterruptamente, é parar um pouco a ouvir as conversas dos outros, num sítio
publico.
Não de uma
forma abertamente mexeriqueira, apenas oiço quem não parece importar-se em
deixar-se ouvir. Aqueles que falam suficientemente alto e de forma tão
apaixonada, que parece que estão na paz de uma casa isolada num monte
alentejano. E eu fico, no meu lugar, com as mãos e olhos entretidos em qualquer
outra coisa, enquanto os ouvidos e a mente estão “recostados e de mãos atrás da
cabeça”, totalmente descontraídos.
Estar num cabeleireiro de olhos fechados, enquanto alguém, com uma voz doce e agradável, relata um acontecimento inócuo e engraçado, cheio de pormenores, ou estar num parque público com um livro na mão, enquanto um par ou um trio de desconhecidos encetam conversa, são situações que considero, na maior parte das vezes, deliciosas.
Estar num cabeleireiro de olhos fechados, enquanto alguém, com uma voz doce e agradável, relata um acontecimento inócuo e engraçado, cheio de pormenores, ou estar num parque público com um livro na mão, enquanto um par ou um trio de desconhecidos encetam conversa, são situações que considero, na maior parte das vezes, deliciosas.
No outro dia
fui, de acordo com o hábito, passar uma tarde no café a ler e a escrever um
pouco, quando esbarrei com uma voz estridente a uns metros de mim.
Tratava-se
de uma mulher, com uma voz alta e esganiçada, que falava mal de tudo e todos:
ora porque tudo estava mal, ora porque os outros são incompetentes, ora porque
são estúpidos e só fazem coisas idiotas. Não tenho nada contra a sua opinião,
mas a forma (cheia de afirmações e vazia de argumentos) e o volume como a
expressava, faziam-me alguma confusão mental. Nestas alturas, tenho que fazer um
grande esforço para não olhar e perceber se a ideia que tenho daquela pessoa
corresponde ou não à realidade.
Outro tipo
de pessoas que me causam algum formigueiro mental são aquelas de meia-idade que
começam a falar dos filhos que estudam no exterior, e dos iates e das viagens,
com um ar todo pedante e quando os vejo, vejo-os meio tristonhos e patéticos.
Felizmente
existem aqueles cafés mais pitorescos como a tabacaria açoriana onde se
encontram uns senhores mais idosos que têm umas conversas que realmente dá
gosto ouvir. Falam sobre filosofia, às vezes politica, às vezes sobre livros ou
simples acontecimentos quotidianos mas, discutem-no de uma forma tão
interessante e pertinente, que ouvi-los é como aplicar um suave bálsamo na
mente.
Pronto,
olhei. É uma mulher normal, nos 30 anos, com uma voz mais excitada que o
aspeto.
0 comentários:
Enviar um comentário