Demasiado se tem falado das praxes nos últimos tempos.
Demasiado porque, parece-me, não se tem chegado a conclusão nenhuma, pelo menos
a uma conclusão de jeito: prática, útil e de acordo com o melhor interesse
geral.
As pessoas limitam-se a dar opiniões,
dizem se são contra ou a favor e o porquê. E os argumentos de ambas as partes,
para além de velhos e sobejamente conhecidos são, muitas vezes, superficiais pouco
razoáveis.
Mesmo assim tenho consumido algumas peças sobre este
assunto: crónicas, comentários, reportagens e debates.
Até cheguei a uma conclusão, mas já lá vamos.
Até cheguei a uma conclusão, mas já lá vamos.
Quando entrei para a universidade ainda não tinha 18
anos. Ficava numa cidade perto de casa e tratava-se duma universidade bem pequena sem
grande tradição de praxes. Porque sou muito curiosa, foi com grande entusiasmo
que aderi às praxes. Sempre queria ver o que era aquilo e se era tão divertido
como esperava. O que esperava é que fosse uma forma de conhecer montes de
pessoas e interagir com elas, de uma maneira diferente e divertida. Sinceramente
era o que pensava na altura, não sei onde fui buscar essa ideia, mas o facto é
que, para mim, foi isso mesmo.
O que se passou foi o seguinte: pintaram-me a cara,
arranjaram-me um nome de caloira (que era tão complexo que nem me lembro qual
era, só sei que era uma palavra completamente inventada pelo que, pelo menos
não a considerei insultuosa), mandaram-me olhar sempre para o chão, cantar,
manusear partes cruas de animais, pescar rebuçados, com a boca, em sacos de
farinha, fazer declarações de amor a velhotes, no jardim público,
usando palavras bastante obscenas, passear pela cidade de penico na cabeça e
partir ovos na cabeça de outros caloiros levando, ao mesmo tempo, com outros na
cabeça.
Ninguém me obrigou a beber (infelizmente), não me espancaram, nem me chamaram muitos nomes. Implicaram um pouco comigo por ser de Alpiarça (o que achei totalmente compreensível e razoável), quase que dei por mim a chorar de humilhação já nem me lembro porquê mas acho que era porque uma rapariga feia e estúpida me mandou calar (deve ser das maiores ofensas que me podem fazer, a mim que estou sempre convencida de ter imensas coisas extremamente interessantes para dizer…), e foi isso.
Ninguém me obrigou a beber (infelizmente), não me espancaram, nem me chamaram muitos nomes. Implicaram um pouco comigo por ser de Alpiarça (o que achei totalmente compreensível e razoável), quase que dei por mim a chorar de humilhação já nem me lembro porquê mas acho que era porque uma rapariga feia e estúpida me mandou calar (deve ser das maiores ofensas que me podem fazer, a mim que estou sempre convencida de ter imensas coisas extremamente interessantes para dizer…), e foi isso.
Diverti-me imenso. Conheci pessoas extraordinárias e
divertidas, fui uma das três caloiras do ano (todas de Alpiarça). Dizem que
fomos as que mais sofreram castigos nas praxes e que nos portámos muito bem
apesar de tudo. E nem sequer chorei, iupi! (sarcasmo).
Agora, depois de ver e ouvir o que tem passado nos meios
de comunicação acerca das praxes (dando sempre mais relevância a peças que
considero sérias e pertinentes), cheguei à conclusão de que o melhor seria acabar
com as praxes de uma vez por todas.
Porquê? Bem, acredito que mal não faz, que pode ser
divertido e que insere o aluno num grupo de amigos e colegas mais depressa mas,
a sério, é mesmo necessário haver praxes para isso? Existe mesmo sentido em
fazer figuras tristes pelas ruas com uma série de pessoas a gritar atrás de
nós?
Muitas dessas pessoas são divertidas e interessantes, estão ali a brincar connosco e tornar-se-ão, rapidamente, grandes amigos mas uma boa parte delas são pessoas frustradas, com uma fraca personalidade e uma ainda mais fraca autoestima, que precisam de mandar uns gritos e humilhar uns semelhantes para se sentirem gente. São aqueles que, mais tarde, fazem o mesmo em ambiente de trabalho e em qualquer ambiente em que estejam inseridos. Quanto a isso nada a fazer. Mas permitir que estas humilhações publicas ou mesmo brincadeiras inocentes sejam consideradas tradição e desencadeiem, demasiadas vezes, situações menos agradáveis depois de tudo o que sabemos que já aconteceu de errado?
Muitas dessas pessoas são divertidas e interessantes, estão ali a brincar connosco e tornar-se-ão, rapidamente, grandes amigos mas uma boa parte delas são pessoas frustradas, com uma fraca personalidade e uma ainda mais fraca autoestima, que precisam de mandar uns gritos e humilhar uns semelhantes para se sentirem gente. São aqueles que, mais tarde, fazem o mesmo em ambiente de trabalho e em qualquer ambiente em que estejam inseridos. Quanto a isso nada a fazer. Mas permitir que estas humilhações publicas ou mesmo brincadeiras inocentes sejam consideradas tradição e desencadeiem, demasiadas vezes, situações menos agradáveis depois de tudo o que sabemos que já aconteceu de errado?
Depois de muito pensar, não faz sentido nenhum que não
sejam proibidas de vez. Eu gostaria de ter a liberdade de não ver seres humanos
a fazer figuras tristes pelas ruas da minha cidade (falo dos “doutores”
evidentemente) e não ouvir tanto espalhafato nos meios de comunicação sobre
algo que, por me parecer tão inútil e banal, nem devia sequer existir, quanto
mais ser tão comentado.
Simplesmente os jovens deviam ter mais que fazer:
divertir-se efetivamente sem ser, tradicional e oficialmente, às custas do
próximo, beber, fazer amigos, eventualmente estudar, namorar, conversar, fazer
teatro, criar, produzir, dançar, etc, etc, etc.
Olhando para trás, e tendo passado momentos tão bons
durante as praxes penso: “Passava sem isso?”. Passava. E ter-me-ia divertido
tanto ou mais.
1 comentários:
Belíssimos argumentos! Gostei muito do teu post, principalmente porque concordo com quase tudo ;) tenho algumas dúvidas na parte do "mal não faz" e " insere o aluno num grupo de amigos mais depressa"...
Tudo isto faz-me mesmo lembrar os rituais de iniciação em seitas (ou pior), em que para serem aceites têm que se sujeitar a trabalhos árduos, humilhações ou torturas. imitar orgasmos em publico para termos amigos? Really? :) isso são coisas de mentes ultrapassadas do século passado (sem querer ofender os defensores do tema). Bye
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