5/30/2010

Lost

E estavam todos mortos...

Fica a desilusão para quem esperava um final científico e surpreendente.

As interpretações do final de Lost podem ser muitas e variadas, não que seja um final totalmente "em aberto" mas deixa muitas coisas por explicar.

A minha interpretação pode mudar com a distância do tempo e depois de pesquisas mais profundas. Até agora, limitei-me a ver a série até ao final.

Isto é apenas uma opinião subjectiva.

Houve um acidente de avião e morreram todos.
A série constrói-se, então, a partir da alma/mente de uma pessoa - Jack Shephard - que vagueia num limbo imaginário tentando alcançar a libertação de si próprio e do seu apego ao que foi a sua vida e ao que foram as suas convicções.

Trata-se de uma espécie de "tratado filosófico e existencialista televisivo" onde se cruzam personagens e cenários sociais representativos do que o homem é interior e socialmente.

Homens e mulheres com personalidades e histórias de vida complexas são colocados num ambiente totalmente virgem. Podem começar as suas histórias de novo, sendo que ninguém os conhece.
Têm, porém, que lutar contra os fantasmas do passado.

Não vale a pena falar de cada uma das histórias, todos já as conhecem pelo que, dou um passeio rápido pela de Jack, que funciona como o fio condutor de tudo:

Jack morre quando vai buscar o corpo do pai à Austrália; pai com que tinha uma relação extremamente conflituosa - Jack morre num momento em que sente rancor pelo pai e sente que não poderá já resolver os seus conflitos (uma vez que aquele havia morrido).

O médico vive na ilha sendo o que sempre foi: líder natural, sempre a tentar resolver tudo e carregando em si a responsabilidade de tomar conta de todos os outros.
Ao mesmo tempo vê o pai na ilha, assim como se vêem outras coisas estranhas (sendo os mortos apenas uma delas). O pai de Jack surge também como uma das facetas do "fumo preto", símbolo do mal.

Temos Jacob como face da harmonia e bem e o "fumo preto" representando o caos, a revolta e o mal. Muitas vezes Jack não consegue discernir qual deles é o bem e o certo, seguindo ora um, ora outro.

A iniciativa dharma e a questão das radiações da ilha não passam da representação de mais uma crença do homem - a crença actual na ciência como explicação para o real.

Tudo o que acontece de estranho da ilha - ursos polares, viagens no tempo e no espaço inexplicáveis, curas repentinas- tem os limites da nossa mente. Se estão todos mortos e a única coisa que sobreviveu foi o espírito/mente, tudo o que acontece, tudo o que "é", tem de estar ao nível do mental e não do físico - tem os limites da nossa concepção mental.

No fim, a ideia principal: "move on".
A série era isso- todo o percurso espíritual de Jack na aceitação da sua própria morte. A reconciliação com o pai, com ele mesmo, o deixar para trás tudo o que foi a sua vida e seguir em frente.

Curioso o vitral que aparece na igreja onde todos os personagens se reúnem no último episódio: tem os símbolos de várias das mais importantes crenças do homem : Cristianismo, Hinduísmo, Judaísmo, Budismo.

1 comentários:

AFT disse...

obrigado. muito boa interpretação.
eu perdi paciência para a série quando veio a 2ª temporada, sendo que da 1ª só vi os resumos.

Mas estava eu a pensar em qual seria o final, por causa de todo o suspense e alarido, e pensei: "você quer ver meu lindo, que isto vai ser uma daquelas coisas que diz "o sentido, não ha sentido - era tudo um sonho" (para os mais desatentos eu falo comigo na 3ª pessoa)
bom, parece que foi o caso. Isso não tira mérito à ideia da série, mas tira certamente à maneira como a série foi publicitada, porque prometeram e alimentaram a expectativa por algo surpreendente com grandes explicações cientificas sobre realidades paralelas, relatividade do tempo, etc, etc e no final era só um sonho com a moral da história. parece que andaram a brincar com o tempo das pessoas e sobretudo, e isso é que é a parte importante, estragaram a série para muitos, pq em vez de olharem para a história como a viagem pessoal que era, perderam tempo a pensar no "mistério" como se de um policial se tratasse.

Faz lembrar o "million dollar hotel" que é um filme lindissimo. excelente história de amor dos tempos modernos, como nunca vi outra, e que eu detestei à 1ª vista, porque vi o filme na óptica do trailer "isto é um policial. um detective tenta descobrir quem matou um rapaz". ou eles não compreenderam o filme ou estavam mesmo só a tentar vender a coisa de maneira mais rentável

boa ideia para uma série. muito mal executada neste sentido, não te parece?