9/10/2008

"Alone"


Entrar nos cinemas de São Jorge na noite chuvosa de 5 de Setembro foi uma experiência cómica. Uma festa de Haloween não teria sido tão pitoresca.
O primeiro pensamento que tive foi: “Para o ano tenho que me lembrar de vir mascarada!”.
Salvo raras excepções, homens e mulheres, na maioria jovens na casa dos 20 e 30 anos, trajavam a rigor. Não diria que pareciam vir de dentro de um filme de terror mas, decisivamente pareciam uma comunidade que se junta para um baile de máscaras. Fiquei com uma estranha sensação de divertimento e falta de seriedade ao mesmo tempo.
Pensei: “será que vou ver um filme de terror divertido, tal como no ano passado? Espero que não”.
De facto, não. Este ano o Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa (MOTELx) revelou uma organização mais madura e eficaz. A programação também me pareceu mais cuidada. O facto é que, com 9 sessões esgotadas e 6500 espectadores, 30% a mais em relação ao ano passado, o festival não competitivo revelou-se uma aposta ganha.
Por mim, tive uma surpresa bastante “agradável”, se é que se pode dizer isso depois de passar por uma série de tumultuosos sentimentos de medo, angústia e sobressalto.
Para começar, a sala do São Jorge (na qual não me lembro de ter estado alguma vez) era enorme, o tamanho de umas três salas normais, o ecrã simplesmente gigantesco e, como já cheguei em cima da hora e a maior parte dos lugares já estavam ocupados, fiquei num lugar da frente.
A sessão teve início com uma curta-metragem espanhola: “Ya no puedo Camiñar” de Luis Berdejo. Gostei do argumento original e engraçado e, sem dúvida de espírito e ambiente tão pesado e tenebroso como o cinema espanhol deste género pode ser. Áspero e bruto, de uma crueza simples e frontal. Cada vez gosto menos mas tenho que reconhecer que é interessante dentro do género.
“Alone” realizado pela dupla de tailandeses Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom, que foi o filme que escolhi a dedo para marcar presença no MOTELx surpreendeu-me bastante.
Insere-se dentro do género de terror asiático que conheço: uma história de espíritos vingativos, mulheres ou crianças, que voltam para assombrar alguém. Neste caso, é a história de duas gémeas siamesas, sendo que uma delas supostamente morre na adolescência durante a cirurgia de separação.
Já na vida adulta, Pim, a gémea viva que vive na Coreia volta à Tailândia natal quando a mãe adoece. É aqui que começa uma aterrorizante assombração que culmina com a descoberta de um segredo de família terrível e macabro.
Sem ter uma história original, o filme está muito bem conseguido e excelentemente filmado.
A realização usou e abusou dos efeitos psicológicos de tensão obtidos com ângulos, jogos de luz e movimentos de câmara simplesmente perfeitos. Os efeitos sonoros também contribuíram bastante para adensar o ambiente e criar situações bastante pesadas.
Posso dizer que, no que me diz respeito, este é o verdadeiro filme de terror... Para além de mexer com o que desde sempre no meu imaginário significa o mais medonho que existe (o pós morte, as almas vingativas, o espírito maléfico) este filme é rodado de forma a construir as cenas da forma mais assustadora possível, criando uma tensão psicológica quase insuportável.
Saí da sala convencida que, se sofresse do coração estava perdida.
Saltei involuntariamente da cadeira uma dúzia de vezes. Já não conseguia suportar a pressão da expectativa de que algo de terrível fosse aparecer. Pensava “Aquela cara medonha e impossível de encarar vai surgir e eu não vou aguentar“ e, de facto sentia-me tão angustiada que olhava para o ecrã de lado...
Enfim, como uma história mais ou menos previsível e comum em que o fantasma pouco mais faz que assustar aparecendo uma série de vezes (e existindo até a possibilidade de ser apenas produto de uma mente culpada e doente) este filme está muito bem feito e cumpre magnificamente o seu objectivo de aterrorizar.
Fiquei muito satisfeita com o resultado. Finalmente um filme de terror de pôr os cabelos em pé.

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