Acabei de ver este vídeo sobre as condições de
trabalho dos Eurodeputados. Parece que, na generalidade, trabalham pouco,
ganham muito e têm um sem fim de perniciosas regalias. Um dos eurodeputados
desbobinou, de forma clara e crua, todas as disparidades entre um cidadão comum,
que ganha pouco e contribui muito, e os favorecidos eurodeputados, semelhantes
aos nobres da idade média, que viviam luxuosamente enquanto o povo,
principal força de trabalho que alimentava o sistema, morria de fome.
Mas, o que me espanta, hoje, não é o facto
dos eurodeputados terem os privilégios que têm, enquanto ao nosso lado, pessoas
outrora pertencentes a uma classe média, não conseguem suprir necessidades tão
básicas como a de comer. O que me choca é o facto da maior parte das pessoas,
nos comentários ao vídeo, desferirem impropérios contra esta classe eleita por
nós, chamando-os de pessoas sem princípios, nojentos, ladrões, chulos,
ardilosos patifes dignos da cadeira elétrica.
Estes pensamentos espantam-me. Esta
violência choca-me. Mas não devia surpreender-me tanto. A minha surpresa é um
sinal claro da minha ingenuidade e idiotice. Ainda acredito que o homem tem a
capacidade e a vontade de raciocinar e ter um pensamento critico sobre os
acontecimentos e sobre ele próprio. Não tem. Em geral não tem essa capacidade
ou não quer ter. Parece-me que estamos condenados, para todo o sempre, a
cometer os mesmos erros.
Mas alguém acredita mesmo que os
eurodeputados são o mal do mundo? Que são diferentes de nós? Que a maior parte
de nós, estando no lugar deles, recusaríamos tudo, e vínhamos para casa voltar
a ser um trabalhador comum, que deixa uma gorda fatia do ordenado em
contribuições para que uns poucos vivam tão bem e tantos pior que mal?
Meus semelhantes, perniciosos não são
alguns homens, pernicioso é o Homem, perniciosa é a natureza humana. Somos
todos muito parecidos e, os que ousam ser diferentes, estão condenados neste
mundo: são os lunáticos, os com a mania que são estranhos, mais comummente
chamados de tolos.
O privilegiado e o miserável vivem em cada
um de nós e, havendo oportunidade, cada um deles revelar-se-á com energia e
animo.
Se estamos descontentes e queremos mudar o
mundo, não adianta querer acabar uma coisa para a substituir por outra igual. Comecemos
por olhar para nós, comecemos por nos conhecer melhor e, se quisermos mesmo
alterar o mundo, que alteremos os nossos comportamentos nas pequenas coisas,
que deixemos de lado as pequenas indignidades que cometemos todos os dias para
ter mais um tostão que o nosso semelhante, que deixemos de passar pelos que têm
menos que nós como se fossem menos que uma estátua feia, que deixemos de
invejar os que têm mais, como se isso fosse uma blasfémia, comecemos por usar a
cabeça e questionar o que realmente andamos aqui a fazer e de que forma contribuimos
para manter este sistema de que tanto nos queixamos. Que deixemos de ser, nas
pequenas coisas, os macacos amestrados deste sistema. Porque contribuimos para
isto, e muito. Porque, na verdade, a maior parte de nós queria ser um deles. Porque, a maior parte de nós que se une para maldizer esta classe fica impávido
e sereno quando deve agir. Isto é o que nós somos. :)
Queremos mudar? Então comecemos por nos
colocar no lugar dos outros sempre que interagimos com eles. Antes de cada atitude e de cada
palavra, comecemos a pensar o que daí vem para o mundo. Antes de cada sim, de
cada não e de cada silêncio, pensemos bem se o que estamos a fazer vai deixar
um mundo melhor aos nossos filhos. Chamar nojentas a estas pessoas nas Redes
Sociais vai melhorar o mundo? Se calhar não. Ter atitudes mais dignas todos os
dias seja com quem for? É capaz. Falar na altura certa e ter atitudes, de
facto, quando é necessário? Também.
Mas isto digo eu, que sou sempre do
contra.
O vídeo para quem quiser ver:
2 comentários:
vou tentar :)
Purpurina, vou tentar, mas gostava mesmo era de conhecer mais políticos com José Mujica - ficam alguns links para quem não o conhece - http://www.youtube.com/watch?v=iy3hiXYG8xc
http://www.youtube.com/watch?v=buDEfYOJ-98
Enviar um comentário